O Anti-Foro de São Paulo e o Instituto Millenium: Afinidades Electivas

Padrão

RELIAL, O ANTI-FORO DE SÂO PAULO

Durante o congresso do World Movement for Democracy (Movimento mundial pelo Democracia) em São Paulo em 2000 — o movimento é bancado pelo National Endowment for Democracy, que utilize dinheiro do contribuinte para “promover a democracia no estrangeiro” — o palestrante principal do seminaŕio “Apoio transnacional aos partidos políticos e ONGs” foi o então presidente Fernando Henrique Cardoso.

Imagina: a embaixada do Brasil manda ACM III como assessor político do candidato ao Congresso no meu distrito em Brooklyn. Incidente internacional. Dá cadeia. Para não falar na reação de uma população afrodescendente na maioria quando souber da lenda do Rei da Cocada Branca.

(Não duvido que haverá ligações entre o AFL-CIO — confederação de sindicatos — e o CUT, com seu próprio complexo de ONGs e ligações com o partido de governo de hoje, com seus acolitos do modelo de governança do New Labour inglês e o estabelecimento Democrata de Harvard.

Vou nisso depois.)

O texto do FHC não está mais disponível no site do WMD — ironicamente a sigla também para “weapons of mass destruction,” como aquelas armas de destruição maçica do Saddam, prometidas até pelo Secretário de Estado frente à ONU e jamais encontradas.

Em qualquer caso, continuo tentando entender melhor o “ecossistema” do Instituto Millenium, uma ONG com laços partidários e empresariais e uma forte conexão com interesses midiáticas, tanto nacionais quanto, eu suspeito, estrangeiros.

Lembre-se de que começamos mapeando o organograma divulgada pelo Instituto, na busca de ligações institucionais que não constam nessa divulgação.

Quase sempe haverá.

O que imediatemente chamou a atenção foi a falta de dados sobre alguns integrantes do Conselho Fiscal do Instituto, especificamente o “empresário” Omério Fonseca.

Segundo o estatuto social do IMIL … uai, peraí.

O Instituto não divulga o documento na página dele. Eu quis saber do papel do Conselho Fiscal relativo ao gestor do fundo patrimonial, Arminio Fraga. Não consta.

Estou acostumado a poder pelo menos dar uma olhada no relatório anual, declaração de renda ao Fisco, e relatórios de auditoria sobre determinada ONG. Mais não estamos mais no Kansas.

O Instituto, que prega a transparência, não a pratica.

Terei que mergulhar no impossível DO, a Imprensa Oficial do Estado de S. Paulo.

De novo. Ufa.

Consegui descobrir que Fonseca é o passado presidente da Associação Brasileira de Restaurantes e um integrante do Instituto Liberal. Tal Instituto já anunciou uma parceria com o site OrdemLivre.org, ao qual Fonseca contribui textos.

Mostrei que tal site é cadastrado, hospedado e mantido pelo Cato Institute de Washington, D.C., um dos “think tanks” mais influências do País.

Sua especialidade é colocar comentaristas «independentes» na mídia — muitas vezes em mídia sobre a qual quem paga o salário do especialista tem influência direta —  e tem tido enorme sucesso com isso.

É muito comun esses especialistas — «talking heads» = cabeças-falantes — serem apresentados como pesquisadores independentes.

Não consta que os institutos de pesquisas pagam seus sálarios com dinheiro provindo de ExxonMobil ou Phillip Morris (cigarros), ou até do governo federal.

Nem Negamos Nem Confirmamos

Eu, por exemplo, contemplava uma vez participar no projeto Global Voices Online, do Centro Berkman, da Universidade Harvard — com parceria estreita na área de políticas públicas com o Centro para Tecnologia e Sociedade da FGV, comandando por Ronaldo Lemos, que acumula a liderança do Creative Commons Brasil.

Só que quando perguntei sobre as fontes de financiamento, eles disseram que não podiam divulgar. Que a empresa de mídia Reuters apoiava foi divulgado, mais quando perguntei se o governo contribuiu, foi invocado o sigilo.

Harvard, como muitas faculdades privadas e públicas, recebe dinheiro do governo federal para pesquisas, mais não divulga os montante de contratos relacionados com segurança nacional, que eu saiba.

Senti que eles quase gostassem do efeito 007 da frase: «Não podemos nem confirmar nem negar».

Mas uma vez que o projeto participava em reuniões com o Departmento de Estado (minutas não disponíveis), e um dos fundadores trabalhava muitos anos num projeto da USAID, eu fiquei com pé atrás.

Eu quero pensar bem antes de endossar a política externa do meu governo. E ainda falta informações completas.

Noticías Imaginárias e Absurdas

Um belo exemplo de “divulgação parcial” enganosa foi o editor de Global Voices no Brasil.

Tratou-se de um cara dizendo-se o responsável para todos os site do movimento Santo Daime no mundo.

Nos EUA, Santo Daime conta com o apoio financeiro do herdeiro da fortuna de Seagram’s, multinacional de bebidas alcoólicas. Paga lobista para um projeto de lei que liberaria o uso do chá como expressão de liberdade religiosa.

O que não constava era que esse redator de GVO também era servidor público no Ministério da Cultura brasileiro.)

O diretor do conselho administrativo do Instituto Cato integrou o conselho de assessores económicos do presidente Reagan e já foi economista-chefe do Ford Motor Company, além de servir como analista do RAND Corporation, estatal de pesquisa ligada ao Departamento de Defesa.

O Instituto tem promovido ceticismo sobre aquecimento global e os efeitos deletérios de tabagismo. Barra-pesademente.

Dando de Ombros

RELIAL, O ANTI-FORO DE SÂO PAULO

Além desta orígem extratupiniquim, OrdemLivre.org forma parte de uma enorme rede mundial de “institutos de pesquisa” de cunho neoliberal, patrociniado pela Atlas Economic Research Foundation, organização na região da Rua K no capital federal norteamericano, com dois empregados.

Parece que Atlas serve tão somente para canalizar doações de quase todos as maiores fundações da extrema direita corporativista norteamericana, segundo informações de SourceWatch.

A figure chave nesse cenário é Alejandro Chafuen, diretor-geral (CEO) da fundação Atlas, detalhes biográficos sobre o qual ainda não consegui.

O Formulário 990 de 007

Li as declarações ao Fisco — IRS Form 990 — da fundação de 2008 e descubri que faltam informações chaves tal como, por exemplo, a identidade dos doadores dos $6.5 milhões recebidos durante o ano, a identidade de recipientes de bolsas de estudo e apoio financeiro no estrangeiro, e o destino de $2.5 milhões do mais que $3 milhões desembolsados durante o ano.

Então, eu mudei o foco e comecei a explorar a rede social de Chafuen.

Chafuen figura como fundador e fiduciário de varias institutos de “pesquisa,” redes de instituições de “pesquisa,” e redes de redes de institutos de “pesquisa,” nos EUA e no mundo inteiro.

O mais interessante dessas redes para meu propósito aqui é o RELIAL, a Red Liberal de la América Latina, com sede no distrito federal de México.

Entre outros fatos interessantes que descubri foi que os integrantes da rede incluem o partido político brasileiro DEM-PFL (RS) e a Juventude Democrata, essa última patrociniada pelo DEM nacional.

Eu comecei com o palpite de que cedo ou tarde, vagando pelas veredas desse manancial de granadutos, eu ia cruzar com o quase como de fosse não governamental — ou quase como se fosse não-governamental, se quiser — National Endowment for Democracy (NED) e sua rede, o

Reforçando esse palpite foi o contrato que a Atlas tem com WirthlinWorldwide, agora uma subsidiária de Harris Interactive, esse útltimo conhecido pelas pesquisas que faz em parceria com o jornal de negócios inglês o Financial Times.

Blogola: Reportajabaganda e Quem Paga o Pato do Cato

Ainda não obtive muitas informações sobre Harris, mais é interessante notar o envolvimento de um executivo da firma numa serie de coletivas virtuais com blogueiros sobre o setor de energia em Julho de 2008.

As coletivas, seguno um relato de SourceWatch, foram patrociniadas pelo American Petroleum Institute, que desse jeito pretendia driblar uma mídia crítica das atividades dos representados — ExxonMobil, por exemplo — e entregar sua mensagem sem cortes e sem mediação crítica direto aos formadores de opinião.

Uma prática costumeira do API, segundo SourceWatch, foi o pagamento de jabaculê na forma de viagens pagas e outras amenidades e brindes recebidos por um bloco cuidadosamente selecionado de “blogueiros conservadores.

O fundador de WithlinWorldwide, como já mencionei, era a estrategista principal do presidente Ronald Reagan de 1968 a 1988.

Foi Reagan que estabeleceu o NED para promover “valores democráticos” atrás da Cortina de Ferro.

Ora, eu já soube que dois dos principiais beneficiados do NED, o IRI, associado com o partido Republicano, e o NDI, com os Democratas, faz décadas fazem treinamentos de lideranças políticas e consultoria política, além de apoiar ONGs ligados a partidos políticos com afinidades ideológicas. Isso com dinheiro do contribuinte.

Sobre esse assunto recomendo de novo o documentário Our Brand is Crisis — «crise é nossa marca registrada!» –, sobre a atuação de consultores políticos gringos — como James Carville, homem de confiança de Clinton, e Rob Allyn, homem de Bush Filho que inventou a campaign “McCain is insane” (é louco) para vencer uma prévia do partido — na Bolivia.

Carville deu conselhos a FHC na campanha de 1994 — em qual capacidade não consta — segundo fontes académica que estou preguiçoso demais de anotar (um estudo de um estudioso português de Portugal):

Uma outra questão fundamental no decorrer da disputa simbólica: quem mostrou uma saída para enfrentar o fato de FHC não ser popular foi o marqueteiro da campanha de Bill Clinton, que veio ao Brasil em maio de 1994. James Carville sugeriu que ao invés de tentar aproximar-se dos pobres, assumisse ‘o papel do homem preparado para solucionar o problema dos pobres’. Estava resolvido. A partir daí, deixava-se de lado a tentativa de transformar FHC naquilo que não era. Reforçava-se o entendimento geral que o tucano era mais preparado para assumir a Presidência da República.

O IRI era especialmente aggressivo durante os anos de Bush Filho, chegando a tais extremos que não dava mais para facilmente diferenciar entre initiativas empresariais, académicas, governamentais, e partidárias nesse sentido.

A secretaria de “diplomacia pública” do Departamento de Estado parecia ser o foco, ou pelo menos um foco mais visível, dessas parcerias públicas-privadas.

Portanto, quanto à RELIAL, eu resolvi excluir a verdadeira mosquitada de institutos de pesquisa montados na Rua K e marcando presença na América Latina — tenho aqui um base de dados da Atlas identificando 500 no mundo inteiro — para tentar ver se houvesse laços desse tipo com partidos políticos ideologicamente compatíveis, tal como a frente ampla libertária do DEM.

RELIAL, O ANTI-FORO DE SÂO PAULO

Descubri 8 partidos políticos integrantes do RELIAL. Eles são:

  1. DEM-PFL (RS+Juventude Democrata, representação indireta)
  2. Partido Cambio Democratico (Panama)
  3. Partido Liberal Radical Auténtico (Paraguay)
  4. Partido Primero La Gente (Argentina)
  5. Alianza Liberal de Nicaragua
  6. Partido Liberal Constitucionalista (Nicaragua)
  7. Partido Justiça Nacional (Peru)
  8. Partido Nueva Aliança (PANAL, México)

Notável na minha passagem rapída pelos «nós» da rede foi a presença marcada de rétorica altamente inflamatória e conspiratória contra aquele velho bode expiatório e demônio folclórico, o Foro de São Paulo.

Havia muitos colaboradores escrevendo no sentido de definir a RELIAL explicitamente como o anti-FSP — que de fato parece ter ajudado o vitorioso FMLN de El Salvador no pleito presidencial do ano passado.

Além disso, tres coisas captaram minha atenção na diagrama mostrada acima (faz clique para ampliar). O primeiro foi a ligação geográfica com México.

Os Maia Tomam Chá Con La Maestra

Sobre “La Maestra,” Esther Elba Gordillo, presidente vitalício do Sindicato Nacional de Trabalhodres na Educação de México (SNTE), já tenho um dossiê interessante.

Foi principalmente recolhido da corajosa imprensa investigativa de México: Proceso, Contralínea, Carmen Aristegui do CNN Español — demitida pelo rádio em que também trabalhava por ter arrumado encrenca com o governo PANista — o blogueiro-contador Miguel Badillo, John Ackerman da UNAM, o colunista Astillero de La Jornada, e tantos outros.

Tudo do qual o tesoureiro do PT está acusado agora pela Veja é o furto de uma balinha da sua vovozinha ao lado da pilagem e maracutaias que essa mulher tem feita e vem fazendo, na maior cara de pau.

Segundo Badillo e outros, a Maestra canalizou decenas de bilhões de pesos de uma série de fundos habitacionais do sindicato ao partido dela, o PANAL — formado após a expulsão da Maestra do bom e velho PRI, e servindo como uma fachada política para ela poder continuar jogando sua massa de manobra sindical no tabuleiro de xadrez nacional.

Se quiserem um caso de sindicalismo voto-de-cabresto e corruptus in extremis — a lema da cidade de Springfield no desenho The Simpsons — que nem os Teamsters de Jimmy Hoffa, é este aí.

Dos pacatos banqueiros do CUT, não sei dizer ainda, mas não é possível eles serem piores.

La Maestra — o apelido lembra a famosa La Chorona — alegadamente orquestrou um enorme fraude eleitoral em 2006, por exemplo, lotando os distritos eletorais em algumas regiões com militantes do SNTE, servindo de voluntários e observadores.

Um grupo de pesquisadores da UNAM invocaram a nova lei de transparência para poder inspecionar as cédulas de votação e outros documentos, sob a ameaça imediata da destruição dos arquivos pelo IFE e TRIFE, o Instituto Federal Electoral e o Tribunal Federal Electoral. Indeferido, mais conseguiram adiar a queimada das cédulas, pelo menos.

Mais essa é uma história cabeluda e comprida demais, e talvez seria um pulo de lógica ligar Gordillo com o fato da REDIAL ficar sediado na Cidade de México.

Mas aumenta minha curiosidade.

O PAN tem aquele mesmo visual de gel no cabelo e terno escuro com gravata vermelha dos neoconservadores gringos e jovens quadros do DEM, como ACM III.

Redes de Redes de ISPs

Segundo, a infraestrutura informática da REDIAL é muito interessante em si. (A ser continuado após minha soneca.)

Primeiro Vislumbre do NED?

Em fim, voltando agora à rede de patrocínio do Instituto Millenium, pode ter um primeiro indício de um mecanismo que levaria ao meu dólar de contribuinte — a hipótese que estou testando aqui.

Basta dizer por enquanto que um dois apoiadores do Primeiro Foro de Democracia e Liberdade de Expressão do Instituto Millenium têm, como ele mesmo conta, (1) laços estreitos com um partido político alemão, o Frei Demokratische Partei, e (2) uma história de colaboração com o IRI e o NED em apoio, em pelo menos um caso, de vários partidos políticos de Croácia, em 2002.

Trata-se do Instituto Friederich Naumann.

Então, pode-se dizer que, além de entidades de classe, o evento do Instituto Millenium contou com o apoio de um rede internacaional de partidos políticos “liberais radicais autênticos” ligados ao DEM, com ONGs em apoio, orquestrada por lobistas da extrema-direita norteamericana e uma rede nebulosa de doadores.

Não é por acaso que ONGs de partidos póliticos de Alemnha teriam como sócios vários comparsas norteamericanos. Como explica o SourceWatch:

During the late 1970s there was new thinking at the highest levels of the U.S. foreign policymakers, and they reconsidered whether these ugly murderous military dictatorships of the 1970s were really the best way to preserve U.S. interests in these countries – U.S. interests being defined traditionally as unfettered access to the primary products and raw materials, to the labor and to the markets of foreign countries.

No fim dos anos 1970s um novo pensamento surgiu entre os círculos mais altos de estabelecimento da política externa, que reconsiderava se essas ditaduras sangrentas dos 1970s fossem o melhor jeito de preservar os interesses dos EUA nesses paises — os interesses sendo definidos, tradicionalmente, como acesso sem limites aos produtos, matéria-prima, mão-de-obra, e mercados de paises estrangeiros.

This new thinking led to the establishment in 1983 of the National Endowment for Democracy. They had chosen the German pattern in which the major political parties in Germany have foundations financed by the federal government. They did more or less the same thing with the establishment of the NED as a private foundation – there is really nothing private about it, and all its money comes from the Congress.

Este pensamento novo levou ao estabelecimento em 1983 do NED. Escolheram o modelo alemão, no qual os grandes partidos políticos tem fundações financiadas pelo governo federal. Fizeram mais o menos a mesma coisa, estabelecendo o NED como uma fundação de direito privado — apesar de não haver nada de privado nele, uma vez que as verbas todas vem do Congresso.

Assim, o Instituo Millenium também conta com o apoio de um instituto do mesmo cunho privado-partidário-empresarial em Alemanha com uma historia de colaboração com o IRI e NED — os quais tem sua própria história de ingerências políticas em América Latina.

Agora, acho que o necessário é começar com o NED e tentar rastrear a rede de apoio fornecida a partido políticos, com foco no Brasil.

Um comentário sobre “O Anti-Foro de São Paulo e o Instituto Millenium: Afinidades Electivas

Os comentários estão desativados.