O Mercador de Água | Anuário de Gringos Corruptos

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Desde 1990, a Justiça federal norteamericana processou mais que 10.000 políticos e servidores públicos publicos por corrupção, crimes eleitorais, e várias outras formas de “privar o público dos servíços honestos, isentos e livres de influência indevida do servidor.”

Entre estes e processos federais contra servidores estaduais e municipais, junto com cidadãos privados envolvidos na corrupção de servidores públicos, foram quase 23.000 casos em 20 anos.

A taxa de condenação foi 88% nesse período — uma taxa que deveria deter o comportamento alvejado melhor do que a taxa registrada aqui até agora.

Eis alguns casos do ano 2009, segundo o relatório da divisão de integridade pública.

Gosto de garimpar documentos deste tipo por possíveis enredos para meu sonhado roteiro de Hollywood.

Tem de tudo que também tem no Brasil, desde a violação do sigilo de figuras de destaque público — Verônica e o marido — até vários esquemas de caixa dois.

Entre estes, tem até a lavagem de dinheiro por uma agência de propaganda e relações públicas, nos moldes do Careca de Belo Horizonte, Marcos Valério.

Ou melhor, tem de quase tudo.

Os milicianos de Rio ainda não temos — embora um candidato à Câmara federal ter dito durante as eleições que os votos de grupos armados no estado dele, chamando-se também de “milícias,” seriam bem-vindos.

Bisbilhotagem

Nove servidores do Departamento de Estado foram condenado no ano passado por quebra de sigilo no PIERS, banco de dados de passaportes, por exemplo.

O motivo parece ter sido mera curiosidade e idiotice; eles “accesaram os pedidos de passaporte de centenas de celebridades, atores, comediantes, atletas, músicos, e outras pessoas destacadas na imprensa, junto como amigos e conhecidos pessoais.”

Merecem a nomeação para o Prêmio de Darwin — reservado para tolos cujo fim infeliz só enriquece o DNA da espéicie.

Exportação de Democracia

As grandes categorias de processos levados ao fim no ano passado pela Justiça foram

  1. o caso sem fim do lobista Jack Abramofff e
  2. a guerra no — me desculpe, a redescontrução do — Iraque

Talvez o caso mais expressivo de corrupção no ámbito da reconstrução do Iraque foi o do Mercador de Água — um major do Exército responsável por contratos de apoio logístico, principalmente envolvendo água potável engarrafada.

O impressionante é a escala malufesca alcançada por um modesto oficial menor. O major bancou mais que $9 milhões em propinas pela redireção de contratos aos pagadores de subornos, antes de ser flagrado pela FBI.

O Major Cockerham de declarou cuplado de receber quase $10 million em propinas de empreiteiras fornecedoras de água potável engarrafada, entre outros ítens, às tropas norteamericanas em Kuwait e Iraque. Também declarando-se culpadas por lavagem de dinheiro no caso foram a irmão, a mulher e a sobrinha dele. … O ex-oficial foi condenado a 17 anos e seis meses de prisão e 3 anos de liberdade condicional.

Foi processado criminalmente pelo poder civil após ser separado do serviço pela justiça militar.

Um oficial com patente tipo 0-4 — tenente-comandante de navio de guerra ou major nos outros serviços — ganha entre 10 e 12 salários mínimos, além de um bônus por serviço em zona de conflito. O maior salário militar é de 20 salários mínimos, mais um bônus para integrantes do Estado-Maior — acho, não sei com certeza. .

Caixa Dois

No ámbito federal, o caso mais notavel foi uma caixa dois modesta montada pelo ex-No. 2 do Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano | HUD, Jerry Pierce Santos — mais um menino dos olhos do Bush ibn Bush.

Pierce-Santos, antigo secretário-assistente do HUD e presidente da firma de lobby Interamerica Inc., teria pago $17.000 em doações tipo “duto” a um candidato ao Congresso federal. O limite para servidores públicos na época era $2.000  Doações tipo “duto” são doações ilegais feitas por uma pessoa no nome de outros . O Santos teria alistado dez pessoas, que teriam contribuidas entre $1.000 e $2.000 cada. Pierce-Santos teria reemobolsado as doações.

Pierce-Santos admitiu a culpa em maio de 2009.

Em 2010, também foi condenado o ex-líder do governo da Câmara, Tom De Lay, Republicano de Texas.

Lamentou a “criminalização da política” e alegou perseguição política na defesa. Foi processado pela justiça estadual de Texas.

Outro caso de caixa dois levou à condenação do ex-goverandor do território de Puerto Rico, Aníbal Acevedo Vilá. Este

participava num esquema que violava a legislação eleitoral por meio de pagamentos ilícitos feitos por empresários de Puerto Rico e Philadelphia, utilizados para quitar a dívida da campanha do ex-governador para se eleger representante do Puerto Rico na Câmara federal em 2000.

O esquema solicitava, aceitava, e reembolsava, pagamentos tipo “duto” de parentes e contratados da campanaha. Os pagamentos foram feitos por intermediário da firma de relações públicas contratada pela campanha.

Notas frias foram emitidas. A firma de RP foi a Lopito, Ileana e Howie, fundada pelo Carlos Pepe Rodriguez, MBA Harvard. .

Também condenado foi Jorge De Castro Font, antigo senador territorial, que admitiu sua culpa por ter

privado o povo dos serviços honestos do seu representatne, junto com fraudes e o crime de concussão, aproveitando o medo de repercussões econômicos resultando do exercício de atribuições oficiais.

Bislhotagem Reloaded

O caso seguinte me chamou a atenção pela semelhança com o caso que resultou na demissão de Roméu Tuma Jr., secretário nacional da Justiça brasileira, no ano passado.

Na verdade, foi um caso que bem pode ter afeitado a gente, por tratar do possível pagamento de propinas para agilizar processos de permanência.

Aguardamos ainda mais informações — e o meu RNE. Ainda estou aqui apenas graças a um carimbo provisório no passaporte — me sinto um João Ninguem de Lugar Nenhum.

Ramon Bazan, antigo agente especial do Burô de Alcóol, Tabaco e Armas de Fogo (“ATF”) foi acusado em dezembro de 2009 por suposta falsidade ideológica no encaminhamento de pedidos fraudulentos de visto.

Quando representava o ATF na Embaixada na Cidade de México, a embaixada disponbilizava um mecanismo pelo processamento rápido de vistos para mexicanos e outros cidadãos estrangeiros quando suas viagens aos EUA serviriam os interesses nacionais ou esforços diplomáticos do país.

Bazan tinha a autoridade de indicar pessoas para este tratamento diferenciado. Bazan é acusado de ter fraudado pedidos de visto para amigos mexicanos e parentes de colegas. Dizia, falsamente, que estes eram contatos oficiais do ATF, fornecendo apoio necessário à missão da agência.

Admitiu a culpa em abril de 2010.

O Caso Abrafmoff

O ano passado também testemunhou mais novidades no caso do lobista Jack Abramoff — “homem bomba do governo Bush.”  Por exemplo,

Todd Boulanger, um lobista e sócio de Jack Abramoff,  admitiu sua culpa na formação de uma quadrilha para fraudear o interesse público nos serviços honestos de servidores. Era parte de um esquema que fornecia ingressos a eventos de entretenimento a um assessor de um Senador federal. Boulanger forneceu tais benesses no valor de decenas de milhares de dólares a vários assesores legislativos em troco do apoio destes na passagem de legislação favorável aos clientes do lobista.

Os clientes foram principalmente consórcios pela exploração do jogo junto com tribos indígenos, aproveitando a brecha que lhes fornece aos tribos um certo grau de soberania.

Em 1999, Boulanger juntou-se à firma de Preston Gates & Ellis — escritório de advogacia do pai de Bill Gates, onde Abramoff também trabalhava na época.

Também traduzo quando der tempo, do mesmo relatório.

Ann Copland, ex-assessor na Câmara, admitiu ter consprirado a privar o público dos serviços honestos dos representantes. Ela assessorava o Congresso em assuntos legislativos e chegou a ser o alvo do lobby de Jack Abramoff, Todd Boulanger, e outro lobista em assuntos relacionados a um tribo indígeno. Recebeu o equivalente de mais que  $25.000 de refeições e entretenimento em troco de vários atos oficiais beneficiando os lobistas e seus clientes.

Horace M. Cooper foi indiciado por conspiração, ocultação fraudelenta , falsidade ideológica, e obstruçao de um inquérito oficial. Durante seus anos de serviço na agência Voice of America e o Departamento de Trabalho, Cooper teria conspirado com Jack Abramoff e outros para privar o público dos serviços honestos dele mesmo. É acusado de solicitar e receber do Abramoff e colegas milhares de dólares de refeições e ingressos em troco de utilizar sua posição nestas agências em prol de Abramoff e seus clientes. Além disso, quando Cooper servia como assessor legislativo, recebeu outros milhares de dólares de benefícios de Abramoff e outros na forma de ingressos para eventos de entretenimento.

David H. Safavian, antigo chefe do gabinente do diretor da GSA, a administração geral de serviços, e chefe para políticas de acquisição no OMB, o Gabinete de Gestão e Orçamento, foi condenado a um ano de pruisão e dois anos de liberdade condicional por falsidade ideológica e obstrução de um inquérito oficial. O Abramoff levou o burocráta em uma viagem a Escôcia e Londres, em troco da qual o Safavian ajudou o Abramoff com suas tentativas de comprar imóveis pertencendo à GSA. Depois, Safavian mentiu a agentes federais e falsificou informações no formulário de divulgação de presentes.

Fraser C. Verrusio, antigo assessor na Câmara federal, foi indiciado por solicitar uma gorjeta illegal, receber uma gorjeta ilegal, e falsificando informações na sua divulgação de presentes. Verrusio é acusado de aceitar uma viagem para assistir o primeiro jogo do camepeonato de beisebol e de ter ajudado uma empresa de locação de equipamentos a inserir emendas em interesse próprio a um projeto de lei sobre rodovias federais.

Feliz ano novo a todos estes criminosos. Vai ver, alguns ainda terão carreiras como mártires ao Grande Irmão, que nem os conspiradores do episódio Irã-Contra.