AIN do Dia | Feminismo Bilionário

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Nossa admirável internauta — AIN — do dia nos fornece um vislumbre do enorme indústria de filantropia global — ou, como é conhecido hoje em dia, o “empreendedorismo social.” .

Ele é a notada feminista Amalia Fischer Pfaeffle do Fundo Angela Borba de Rio de Janeiro.

Assim com eu fiz com outra indústrias — rodando no momento está uma aranhação do setor de bens capitais do Brasil — fiz algumas pesquisas preliminárias para identificar entidades importantes nessa «ecossistema», utilizadas depois como «sementes» numa navegação automatizada de alguns 300.000 URLs.

Entre as entidades mais importantes nessa galáxia foi o Grantmakers Without Borders.

Não é doadora ela própria, mas serve de consultora para uma rede de redes — de redes, de redes — de fundos filantrópicos, assim como um lobby se opondo a legislação que abriria o fluxo de dinheiro a uma transparência obrigatória maior.

Um das dezenas de redes de fundos afiliados com a consultora, por exemplo, é a Women’s Funding Network, que financia projetos em benefício de mulheres, obviamente. Tem $585 milhões em capital — R$ 990 milhões — e doa, ou como eles dizem, “investe,” 65 milhões — R$ 110 milhões — por ano. Isso segundo seu relatório de 2009.

Qualquer pesquisador de ONG-OSCIPS norte-americanas sabe que dinheiro doado no estrangeiro não é divulgado no Formulário 990 do Fisco gringo. Se eu quisesse saber o quanto a Fundação Gates gastava em projetos sociais em, digamos, México, esta não seria obrigada a me informar do montante.

É meio frustrante.

O GWOB agora pretende proteger e fortalecer esta opacidade contra um projeto de lei que obrigaria maior divulgação.

Os argumentos do grupo resumem-se assim:

  • O Anexo F do Formulário 990 deve desfrutar de um grau de sigilo e privacidade para proteger o trabalho e a vida de recipientes operando em ambientes adversos..
  • As instruções para Anexo F(II)(d) não deveriam obrigar a divulgação de doações de apoio geral..
  • As instruções para Anexo F(II( 2) não protegem doadores contra a impressão enganosa da possível ilegalidade de doações`à organizações não reconhecidas nos países de origem como o equivalente do ONG-OSCIP sob  501(c)(3) do código tributário dos EUA.
  • A definição de “estrangeiro” inclui cidadãos dos EUA morando fora do país. Por quê?

Numa análise do GWOB — utilizando um algoritmo que detecta “núcleos naturais” — achei dois elementos que eu cheguei a chamar da Indústria — ou pode ser o Complexo — e a rede GWOB.

Este última trata-se dos fundos que recebem assessoria jurídica e serviços de lobby do GWOB.

Os elementos com a maior centralidade são o COF — o Council on Foundations — e o NED, o National Endowment for Democracy, fundo de fomento de “democracia” capitalizado pelo contribuinte.

Segue o model MOSCOU exposto em notas anteriores.

Tem mídia própria e mecanismos de divulgação e relações públicas fazendo uso da rede social.

O caso da PBS — o TV Brasil-EBC de lá — é especialmente trágica.

Virou a cativa de doadores filantrópicas — fachadas de grandes corporações — e viu a pauta do seu noticiário do horário nobre virar uma escola de samba de “cabeças-falantes” dos institutos de pesquisa, advogando os interesses de quem paga o salário sob o pretexto de comentário isento.

Não vou entrar em muitos detalhes. Só quis preparar a cena para o entendimento das ligações institucionais da nosssa AIN do dia.

Faça clique para ampliar.

Uma diretora do GWOB, Fischer também serve em posições de autoridade em várias organizações e redes de organizações ligadas a esta, inclusive a Women’s Funding Network.

Ela é coordenadora executiva, por exemplo, do Fundo Social ELAS, integrante da rede Synergos, onde ela trabalha como pesquisadora remunerada. ELAS também integra a rede Urgent Action, onde Fischer tem assento no conselho administrativo.

O FSELAS tem como sócio a revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios, da Globo, uma parceria entre a emissora-editora e o BINGO Endeavor International.

Em fim, essa nuvem de organizações tem muitas das características da uma única «organização em rede», com uma identidade difusa mais compartilhando pessoal e recursos, devidamente ofuscados pelo giro possibilitado por regras frouxas de divulgação.

Um estudo mais fundo de diretorias entrecruzadas completará o cenário, é minha expectativa.

É curioso o fato de que os endereços dados numa pesquisa WHOIS sobre internationaldonors.org seriam uma residência privada en San Francisco e uma caixa postal em Boston. Coordenando tantos projetos, e tendo um grupo de caciques tão grande, você teria a expectativa de poder visitar um suite de escritório ocupando um andar inteiro de algum prédio comercial.

Parece ser uma organização completamente virtual.

Ashoka: A Responsabilidade Social dos Socialmente Irresponsáveis

O trabalho da nos AIN na ONG Ashoka também é interessante.

Fundada como um parceria da consultora McKinsey, o escritório de advogacia Latham & Watkins, e a agência de relaçõoes públicas Hill & Knowlton, a Ashoka se diz ter fundado a primeira incubadora de empreendimentos sociais no Brasil em 1996. Até agora, não consegui identificá-la, mas pode até ser a mesma Ashoka.

A Latham & Watkins consta no Tobacco Project como o advogado principal da extinta Brown & Williamson durante o enorme processo contra o Grande Tabaco pelo governo federal e os MPs estaduais. Hill & Knowlton fornecia pesquisas enganosas que pretendiam confundir e levantar dúvidas sobre as provas científicas fortalecendo o argumento de que o tabagismo seria um problema de saúde pública.

Muito desse discurso vagamente libertário que ouvimos de «institutos de pesquisa» com o Cato vem diretamente da necessidade de estabelecer os alicerces de um argumento contra o fato do vício produzido pelo consumo de cigarros.

“Nossos clientes escolheram livremente o uso de nosso produto, e continuam fumando por puro e livre arbítrio.” Eu, hein?

Segundo pesquisas de SourceWatch, o Hill & Knowlton tem uma história controvertida.

Tem um longa história de fazer as relações públicas do governo federal dos EUA, por exemplo.

Representava o governo de Kuwait durante a primeira Guerra do Golfo — um cliente, decerto, que foi vitimizado no caso, apesar de não ser nenhum anjo e farol de democracia.

Parece especializar em comunicações de crises, quando o cliente encara uma ameaça a seu bom nome. Defendia DeBeers, o produtor de diamantes sulafricano, num caso onde foi denunciada por grilagem de terras indígenas.

Montou uma campanha em parcera com a drogaria Rite Aid e o American Heart Association, respeitada ONG financiando pesquisa médica sobre saúde cardíaca.

O problem foi que o Rite Aid ainda vendia cigarros, quando a maiora de drogarias tinha deixada de vender. A campanha meio que saiu pela culatra pela hipocrisia aparente.

Representou o FMI e agora representa o Conselho de Copenhague.

Representou o Body Shop — o ur-empreendimento verde e sustentável — quando virou público que alguns ingredientes eram produtos de práticas antiambientais e condições de trabalho escandalosas.

Fez uma campanha anti-aborto para o bispos católicos dos EUA.

Fez uma campanha de desinformação sobre problemas com a urna eletrónica no estado de Florida. Não havia problema alguma, segundo eles.

E depois do bom trabalho feito durante a presidência de Bush Pai, a diretora-executiva da agência, Victoria Clarke, virou a porta-voz das forças armadas durante a segundo Guerra de Iraque — virando assim a fonte do tsunami de propaganda mentirosa utilizada para vender aquela guerra.

Me lembro bem dela, Estava completamente sem jeito. Os tubarões da imprensa enchiam a panza da sua ineptitude.

Como sempre digo, não pretendo questionar o valor humanístico de este ou aquele programa de determinada ONG.

Estou sentindo que a hora chegou para eu articular uma crítica mais sistemática dessa indústria de filantropia global. A Naomi Klein e outros já fizeram, mas eu gosto de seguir meu próprio fio de pensamento, para muscular os miolos.

A vasta maioria de resultados de uma buscano Google Académico sobre “social entrepreneurship” são do gênero “como fazer,” mas achei um estudo interessante sobre a contribuição de ONGs opacas à corrupção que talvez eu traduzo dia desses.

Por exemplo, se redes de ONGs são utilizadas de violar a legislação eleitoral de uma democracia com doações de “dinheiro mole” e apoio indireito, são heróis da resistência democrática ou um bando de safados?